Humberto de Campos
Publicado em 1 de Fevereiro de 2019 ‐ 7 min de leitura
Humberto de Campos nasceu na pequena localidade de Piritiba, no Maranhão, em 1886. Foi menino pobre. Estudou com esforço e sacrifício. Ficou órfão de pai aos 5 anos de idade. Sua infância foi marcada pela miséria. Em sua Memórias, ele conta alguns episódios que lhe deixaram sulcos profundos na alma. Tempo depois, mudou-se para o Rio de Janeiro, então Capital da República, onde se tornou famoso. Brilhante jornalista e cronista perfeito, suas páginas foram “colunas” em todos os jornais importantes do País.
Dedicou-se inteiramente à arte de escrever e, por isso, eram parcos os recursos financeiros. A certa altura da sua vida, quando minguadas se fizeram as economias, teve a ideia de mudar de estilo. Adotando o pseudônimo de Conselheiro XX, escreveu uma crônica chistosa a respeito da figura eminente da época, Medeiros e Albuquerque, que se tornou assim motivo de riso, da zombaria e da chacota dos cariocas por vários dias. O Conselheiro, sibilino e mordaz, feriu fundo o orgulho e a vaidade de Medeiros, colocando na boca do povo os argumentos que todos desejavam assacar contra Albuquerque. O sucesso foi total.
Tendo feito, por experiência, aquela crônica, de um momento para outro se viu na contingência de manter o estilo e escrever mais, pois seus leitores multiplicaram, chovendo cartas às redações dos jornais, solicitando novas matérias do Conselheiro XX. Além de manter o estilo, Humberto se foi aprofundando no mesmo, tornando-se para alguns, na época, quase imortal, saciando o paladar de toda uma mentalidade que desejava mais liberdade de expressão e mais explicitação na abordagem dos problemas humanos e sociais. Quando adoeceu, modificou completamente o estilo. Sepultou o Conselheiro XX, e das cinzas, qual Fênix luminosa, nasceu outro Humberto, cheio de piedade, compreensão e entendimento para com as fraquezas e sofrimentos do seu semelhante.
A alma sofredora do País buscou avidamente Humberto de Campos e dele recebeu consolação e esperança. Eram cartas de dor e desespero que chegavam às suas mãos, pedindo socorro e auxílio. E ele, tocado nas fibras mais sensíveis do coração, a todas respondia, em crônicas, pelos jornais, atingindo milhares de leitores em circunstâncias idênticas de provações e lágrimas.
Fez-se amado por todo o Brasil, especialmente na Bahia e São Paulo. Seus padecimentos, contudo, aumentavam dia a dia. Parcialmente cego e submetendo-se a várias cirurgias, morando em pensão, sem o calor da família, sua vida era, em si mesma, um quadro de dor e sofrimento. Não desesperava, porém, e continuava escrevendo para consolo de muitos corações.
A 5 de dezembro de 1934, desencarnou. Partiu levando da Terra amargas decepções. Jamais o Maranhão, sua terra natal, aceitou-o. Seus conterrâneos chegaram mesmo a hostilizá-lo. Três meses apenas de desencarnado, retornou do Além, através do jovem médium Chico Xavier, este, com 24 anos de idade somente, e começou a escrever, sacudindo o País inteiro com suas crônicas de além-túmulo. O fato abalou a opinião pública. Os jornais do Rio de Janeiro e outros Estados estamparam suas mensagens, despertando a atenção de toda gente. Os jornaleiros gritavam:Extra, extra! Mensagens de Humberto de Campos, depois de morto! E o povo lia com sofreguidão…
Agripino Grieco e outros críticos literários famosos examinaram atenciosamente a produção de Humberto, agora no Além. E atestaram a autenticidade do estilo. Só podia ser Humberto de Campos! − afirmaram eles. Começou então uma fase nova para o Espiritismo no Brasil. Chico Xavier e a Federação Espírita Brasileira ganharam notoriedade. Vários livros foram publicados.Aconteceu o inesperado. Os familiares de Humberto moveram uma ação judicial contra a FEB, exigindo os direitos autorais do morto!
Tal foi a celeuma, que o histórico de tudo isso está hoje registrado num livro cujo título é A Psicografia ante os Tribunais, escrito por Dr. Miguel Timponi. A Federação ganhou a causa. Humberto, constrangido, ausentou-se por largo período e, quando retornou a escrever, usou o pseudônimo de Irmão X. Nas duas fases do Além, grafou 12 obras pelo médium Chico Xavier.
Crônicas de Além-Túmulo; Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho; Boa Nova; Novas Mensagens; Luz Acima; Contos e Apólogos e outros foram livros que escreveu para deleite de muitas almas.
Nas primeiras mensagens, temos um Humberto bem humano, com características próprias do intelectual do mundo. Logo depois, ele se vai espiritualizando, sutilizando as ideias e expressões, tornando-se então o escritor espiritual predileto de milhares. Os que lerem suas obras de antes e de depois de morto, poderão constatar a realidade do fenômeno espírita e a autenticidade da mediunidade de Chico Xavier.
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Quem foi Humberto de Campos?
Humberto de Campos (H. de C. Veras) (1886-1934) foi jornalista, crítico, contista e memoralista, nascido em Miritiba, Maranhão. Terceiro ocupante da Cadeira 20, eleito em 30 de outubro de 1919, na sucessão de Emílio de Menezes e recebido pelo Acadêmico Luís Murat em 8 de maio de 1920.
Como foi a sua infância?
Filho de Joaquim Gomes de Faria Veras, pequeno comerciante, e Ana de Campos Veras. Perdendo o pai aos seis anos, Humberto de Campos deixou a cidade natal e foi levado para São Luís. De infância pobre, desde cedo começou a trabalhar no comércio como meio de subsistência.
Como se tornou escritor?
Aos 17 anos, no Pará, já era colaborador e redator na Folha do Norte. Em 1910 publicou seu primeiro livro a coletânea de versos intitulada Poeira. Em 1912 no Rio de Janeiro, entrou para O Imparcial, em que teve contato com Goulart de Andrade, Rui Barbosa, José Veríssimo e outros. Escreveu com diversos pseudônimos, entre os quais, o Conselheiro XX.
Dentre as suas inúmeras obras, qual sobressaiu?
Memórias, em 1933, que são as crônicas dos começos de sua vida. O seu Diário secreto, de publicação póstuma, provocou grande escândalo pela irreverência e malícia em relação a contemporâneos.
Em termos espirituais, o que representa passar pela infância pobre?
No processo da reencarnação, os Espíritos trazem dentro de si os talentos ocultos. O estado de pobreza é, para muitos deles, um período de reflexão, no sentido de bem aproveitar a sua missão na Terra.
Qual o principal traço no comportamento de Humberto de Campos?
A perseverança é a sua marca registrada. Dizia: “Gosto de subir, mas não gosto de mudar de escada”.
Como resumir a sua psicografia?
A partir de 1937, três anos após a morte de seu corpo físico, começou a ditar mensagens, crônicas e romances através da psicografia de Francisco Cândido Xavier. “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho” foi a obra de maior notoriedade.
Quais outras obras mediúnicas são de sua autoria?
Crônicas do além-túmulo, Novas mensagens, Boa nova, além-túmulo… A tônica de sua comunicação mediúnica baseava-se em mensagens que redundavam em consolo aos tristes e esperança aos desafortunados.
Qual a polêmica no meio jurídico sobre o valor probatório da
psicografia? A viúva de Humberto de Campos, em 1944, moveu um processo contra a Federação Espírita Brasileira e Francisco Cândido Xavier, no sentido de obter uma declaração, por sentença, de que essa obra mediúnica “era ou não do ‘Espírito’ Humberto de Campos”, e que em caso afirmativo, que ela obtivesse os direitos autorais da obra.
O juiz João Frederico Mourão Russell proferiu a seguinte parecer: ao morrer, o indivíduo deixa de possuir direitos civis, logo Humberto de Campos não poderia reavê-los. Direitos autorais herdáveis limitam-se àqueles referentes a obras produzidas pelo escritor antes de sua morte. A consulta com base em perícia científica sobre o Espiritismo foge às prerrogativas do Judiciário.
Por quê Irmão X?
Em vista do processo judicial, Humberto de Campos passa a assinar as suas obras com o pseudônimo de Irmão X, possivelmente relembrando o seu pseudônimo de Conselheiro XX, quando estava encarnado. Como Irmão X vieram Lázaro redivivo (1945), Luz acima (1948), Pontos e contos (1951), Contos e apólogos (1958), Contos desta e doutra vida (1964), Cartas e crônicas (1966) e Estante da vida (1969).
Fonte
O Consolador Aprofundamento Doutrinário, Sérgio Biagi Gregório